Thursday, November 30, 2006

A pequena Rainha

"People are strange, when you're a stranger Faces look ugly when you're alone Women seem wicked, when you're unwanted Streets are uneven, when you're down When you're strange- faces come out of the rain (rain, rain) When you're strange- no one remembers your name When you're strange, when you're strange, when you're strange "

Levantou-se.
Foi até sua bolsa. Pegou o maço de Malboro Light. Tirou um. Acendeu. Puxou o ar. Tragou. Soltou a fumaça.
Tragou de novo.
Olhou para o lado e viu seu parceiro dormindo de costas para ela. Mais uma vez.
Mais uma vez, Clara se vira sozinha após uma boa foda.
Nunca esteve acompanhada.
Era sempre assim, ela dava e eles dormiam. Guga. Roberto. Guilherme. Fernando. Gustavo. Renato. Douglas. Leandro. Agora Bruno.
Era sua sina, já estava se acostumando.
Olhou o relógio, estava atrasada. Tinha uma reunião com seus companheiros de Diretório Central.
*****
Clara era a nova presidente do Diretório Central de sua faculdade, o órgão que representa e cuida dos direitos dos alunos.
Uma grande mentira.
D.C, como é conhecido o Diretório Central, é o grande responsável pelas festas da faculdade de Clara serem consideradas as melhores do meio universitário. Cada convite é disputado a tapas e socos. Era isso que o D.C fazia. Festas.
Clara era a segunda mulher a ocupar o cargo e estava muito orgulhosa disto.Tinha muitas idéias e planos para a sua gestão no D.C, afinal um ano passa rápido.

Levantou-se da cama, colocou sua calcinha azul-claro da Hello Kit, soutiem, calça jeans branca, papete marrom clara, blusa da “XIV Festa do Júlio” e jaqueta jeans azul. Pegou sua bolsa branca e saiu apressada.
-“Como é mesmo o nome dele?”- pensou. Foda-se .
Pegou o elevador. Térreo. Saiu para a rua, livre novamente.
Só ela. Sempre. Sempre só.
Estava chegando a faculdade, Bruno morava perto, menos de 500 metros e já estaria no D.C .
Além de fumar maconha o dia inteiro, Bruno fodia gostosinho, mas Clara já tivera melhores. Bruno apenas quebrava o galho.
Clara andava, apenas 100m a distanciava de sua faculdade, e lembranças vinham a sua mente.
Roberto.
Roberto era foda.
Stripper. 30 anos. Forte. Bonito.Bem dotado, tinha uma mandioca entre as pernas. Foi a grande paixão de Clara.
Conheceram-se em um clube de stripe tease só para mulheres.
Um olhar. Um sorriso. Beijo.
Sexo. Sexo do bom. Seis vezes na noite. Gozo quente. Porra quente. Sorriso bobo. Soninho gostoso. Arrebatador. Ligação inédita dele de “Bom Dia” para ela no dia seguinte.
Seis meses nesse ritmo. Coração dispara só em lembrar.
Amor.
Amor?
Sim.
Amou como nunca amara nenhuma rola. Nem antes, nem depois. Roberto era único. Um cavalo! Um colosso de homem!
Pena que não valia a cueca que vestia. Deu um pé na bunda de Clara sem explicação.Nada. Sem motivo.
Sem motivo. Lembranças vêm e vão à sua mente. E toda vez ela chora.
Não hoje.
Pois a representante de 3.000 alunos não pode chorar. Não sem uma boa causa. E ao que parece essa não é mais uma boa causa. Ano novo, vida nova. Amores novos.
- “Só arranjo tranqueiras!” - pensou Clara.
Absoluta verdade.
*****
Guilherme até ser agarrado a força por Clara em uma festa do D.C ano passado, era tido como bixa pelos amigos e os outros 2.999 alunos da faculdade. Também pudera, um homem que passa creme nos cotovelos para evitar que ressequem e faz crochê, tem que ser bixa ou uma velhinha!
*****
Guga foi o primeiro de Clara. E o pior. Conquistou a então menina Clara com flores, mensagens de texto em seu celular a toda hora, passeios interessantes e encantadores.
Até ele conseguir o que queria. A bucetinha virgem de Clara.
Após 3 meses de namorico ele conseguiu. Deixou sua marca. Pôs a xoxota de Clara na forma. E depois sumiu. Mas antes disso, olhou Clara nos olhos e disse –“Eu já tive o que queria, falou.”
Um monstro disfarçado de homem.

Com Leandro foi rápido. Treparam 4 ou 5 vezes. Conheceram-se na festa de formatura de sua irmã, que se formara heroicamente em medicina. Ele tinha namorada e estava bem sussa de largá-la para correr riscos com um novo amor.
Médico burro.
*****
Fernando. Surfista sarado. Uma porta. Maresias. Sirena. 7 copos de vodka com Coca-Cola.
Sexo na areia. Pinto fino. Grãos machucando sua xereca. Não vale nem a pena lembrar direito. Uma bosta .
*****
Douglas.
Mais velho, vocalista de uma banda bem conceituada de covers. Era baixo, mas forte. Careca e charmoso. Meteram 1 vez. E só .
Sem telefonemas ou mensagens.
Meteram e só.
*****
Gustavo. Nunca tinha dado para Gustavo. Mas queria. Insistia nisso. Ele sabia que ela sabia. Ela sabia. Sabia que da fruta que ela gostava, ele chupava até o caroço!
Um desperdício de homem!
*****
Clara parou na frente de uma das inúmeras lanchonetes que existem nos arredores de sua faculdade, pensou.Voltou a andar.
Parou.
Olhou para sua faculdade, parecia estar tão longe. Deu mais um passo. E outro. E mais outro. E sua faculdade parecia estar mais longe ainda. Assustada começou correr e mais assustada ainda parou. Sua faculdade estava tão longe que quase não a via mais.
Entendeu. Como uma rainha moderna, entendeu o que estava acontecendo. Sua mente e espírito precisavam de um tempo para entrar em sintonia.

Todos consideravam Clara uma mulher livre e independente, que fazia o que bem entendia de sua vida e não dava satisfação a ninguém, realmente ela tinha este poder. Era uma rainha. Alguém especial.
Era isso que a incomodava tanto. Tinha total liberdade para fazer o quiser da sua vida e... não sabia o que queria.
Aliás sabia sim o queria. Felicidade. Queria felicidade.
Mas não sabia como.
Não gostava de sua faculdade, era um bosta de lugar com uma bosta de gente metida a besta. Gostava dos poucos amigos que fizera e só. Foi por isso que concorreu, e ganhou, as eleições para o Diretório central. Por amor aos seus amigos.
Sua vida pessoal tava uma bosta. Casos esporádicos e só. Ninguém especial. Sem príncipes em cavalos brancos. Na verdade... sem nada.
O único que chegou perto de um príncipe fora Roberto, isso porque no dia seguinte da primeira foda dos dois ele ligou e disse “- Bom Dia”. Só.
A rainha estava sozinha. E não queria continuar assim.

Parada tomou a maior decisão de sua vida até então. Seguiria seu coração e não a sua carne. A carne é fraca, mas o espírito e forte. Ainda mais o de uma rainha. Pequena, mas ainda assim uma rainha.
Pegou seu celular, ligou para seu pai e disse:
“- Estou pedindo transferência do curso de Comunicação Social”.
Orgulhoso seu pai responde: “-Corre atrás do que você quer, porque nem eu e nem ninguém vai fazer isso por você. Ninguém deve ou pode.”
Desligou seu celular e nunca mais pisou seus imaculados pés na faculdade de Comunicação Social. Aqueles bárbaros hipócritas não mereciam sua presença.
Libertou-se e foi ser Fisioterapeuta .

0 Comments:

Post a Comment

<< Home