Sunday, April 29, 2007

Canalha por natureza

”Se você nunca se contradiz
Não abre mão do que te faz feliz
Se não há nada que abale sua paz
Já nasceu sabendo como é que se faz
e tudo segue do jeito que sempre quis”

"Clube dos canalhas"- Matanza


Todos os dias, pontualmente, Alan acordava às 5 da manhã. Sentava na cama, de olhos fechados tentava imaginar como seria o seu dia.
Trânsito, trabalho, trânsito e casa. Imaginava tudo isso em uma fração de segundo, a fração que demorava a abrir os olhos e caminhar até o banheiro.
Já devidamente fantasiado para a sua jornada de trabalho, Alan sentava-se na mesa da cozinha e tomava seu café com pão na chapa, que sua esposa preparava.
Esposa essa, que nem sabia o que estava fazendo direito, tamanho era o sono em seus olhos. Levantava a essa hora porque era obrigada, senão só levantaria depois das 9!
Era assim que Alan gostava de ver Sônia, sempre o servindo, sem reclamação, totalmente devota ao marido, “Fora assim durante o namoro e será durante o resto da vida”, pensava ele.
Apesar de estarmos em pleno século 21, com toda modernidade, rápidas mudanças de comportamento e o Orkut, podemos achar homens que tem este tipo de comportamento.
Alan era assim, o tipo machão. Ou as coisas funcionavam do jeito dele ou não funcionavam.
Não dava “bom dia” pra ninguém, nem para o seu chefe, que segundo Alan era uma “bicha incompetente”.
Sempre de cara fechada.
Com ele ninguém mexia.
Um cara com este perfil só poderia trabalhar em um lugar.
Na bolsa de valores de São Paulo.
Lá ele gritava, berrava, ameaçava de morte e algumas vezes até dava porrada nos seus colegas de profissão, tamanha era a sua gana. Adorava tudo aquilo, no pregão sentia se em plena selva, e na selva só pode haver um. E esse “um” era ele!
O grande macho!O mais forte e intimidador!
Pelo menos era assim que ele se sentia. Mas cá para nós, naquela loucura toda ele é apenas mais um.
Após um dia empolgante de selvageria pura, Alan ia para academia. Macho que é macho puxa ferro, e todo dia.
Depois tomava banho, na academia mesmo, colocava uma roupa limpa e ia para o Texas Moon, o verdadeiro lugar de um macho.
Ia ao Texas Moon todo dia. Pegava quase sempre a mesma puta, Sheyla, e gastava mais da metade do seu salário com isso, mês após mês, ano após ano.
Gostava de comer Sheyla porque com ela não tinha frescura, era rola rabo e porra na cara! Na cama quem manda é o homem, nada de calma ou palavrinhas bonitas ao pé da orelha. Tome rola.
Quando estava com muito ânimo, geralmente no começo da semana, ele pegava duas ou até três putas e as fodia ao mesmo tempo. O cara era uma selvagem!
Voltava para casa, umas 19:45, de banho tomado e com a roupa suada do trabalho. Chegando em casa tomava mais um banho , para disfarçar, jantava e às vezes comia Sônia.
Às vezes, pois ninguém é de ferro e Sônia fodia mal. Era cheia de frescuras e gostava de palavrinhas doces no pé do ouvido. Um saco.
Dormia com a consciência tranqüila, sabia que Sônia tinha ido ao supermercado, feito o almoço e depois ido na igreja e depois feito o jantar.
Era assim que ele gostava, é assim que o macho moderno deve ser tratado.
Gostava de ver o medo com que os outros o olhavam. Raramente alguém o olhava diretamente nos olhos, “- É como olhar um leão nos olhos!”, pensava Alan.

No começo do casamento, Sônia chorava muito com a rotina diária de traições de Alan. Se perguntava como o namorado, agora marido, tinha mudado tanto.
E para pior.
Martirizava-se, todo dia. Mas depois da tristeza, veio o ódio e depois do ódio, a vingança.
Logo após, que Alan saia para trabalhar, Sônia trocava de roupa e ia para a academia.
Lá se exercitava duramente, e é lógico flertava com todo mundo, inclusive (e propositalmente) com o personal trainer de Alan.
Com a rotina diária de exercícios Sônia reforçou ainda mais o que a natureza tinha lhe dado, ficava a cada treino mais e mais gostosa.E era isso que ela queria, queria ser desejado por todos.
Depois do treino, tomava um bom banho e ia para um destes salões de beleza que tem tudo; massagem, banho de chocolate, massagem com pedras de jardim, e mais um cem números de coisas que não valem de nada é só servem para uma mulher mostrar para a outra como ela se acha feia e não tem nada para fazer.
Acabada a sessão de beleza, Sônia voltava para casa, almoçava, via um pouco de televisão e escolhia para quem ia dar na tarde.
O porteiro, o jardineiro ou personal trainer?
Todos , obviamente, ligados e com contato direto com Alan. Gostava muito de ver, a cara que seu marido fazia quando um destes o olhava e ele fazia aquela cara de mau, com certeza pensando que tinham medo dele.
E era isso mesmo que Alan pensava. Pensava que todos o respeitavam, e tinham medo dele.
Mas na verdade, todos diziam interiormente: “- Comi a sua mulher ontem, seu corno de cara feia!” e gargalhavam muito, por dentro é claro.
Com os amantes, Sônia não tinha pudor. Gostava de ser torada como uma puta, sem frescuras ou meiguices. Queria violência e selvageria, tudo aquilo que seu marido procurava fora de casa ela fazia em casa, porém com outros e não com ele.
Tinha tanto fôlego, que muitas das fodas acabavam mais cedo porque os seus parceiros não agüentavam o seu ritmo.
E assim seguiu a vida de Alan e Sônia. O tempo passou, vieram filhos e netos.
Ele morreu achando que foi o macho dos machos ,e, ela, o porteiro,o jardineiro e o personal trainer com a certeza de que ele foi o mais chifrudo dos machos.
Se em algum lugar da natureza, existe um ser que pode ser mais forte, inteligente e esperto que o homem, com certeza é o que dorme ao seu lado.